REFLEXÃO BÍBLICA
REFLEXÃO BÍBLICA
SÃO PAULO: "Eu sou o menor dos Apóstolos [...] pois persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que Ele me deu não foi inútil" (1 Cor 15, 9-10)
PASCOM MATRIZ DE SANTO ANDRÉ - SP
POR VANESSA MASCARO SIRIBELI DE SANTO ANDRÉ - SP
SÃO PAULO: CONVERSÃO OU VOCAÇÃO?
No próximo dia 25 de janeiro, a liturgia da Igreja recorda a Conversão de São Paulo. Mas será que podemos considerar conversão sinônimo de vocação? Afinal, Paulo é um convertido ou um vocacionado?
Diante da pergunta Conversão ou Vocação, temos a seguinte certeza: se antes Paulo perseguia os seguidores de Jesus, agora torna-se o próprio seguidor de Cristo, sendo luz, profeta e evangelizador.
Para justificar nossa reflexão, nos basearemos nas Cartas Paulinas (originais) e no Livro de Ato dos Apóstolos, escrito por São Lucas. Sendo assim, temos em Lucas um contraponto com relação às cartas paulinas.
Em qualquer estudo bíblico, é necessário contextualizar as leituras, para uma melhor compreensão da mensagem central daquele texto. Dessa maneira, convém destacar que o Livro de Atos, datam dos anos 80 e 90 d.C, enquanto as Cartas Paulinas, datam conforme uma das três gerações: a) cartas originais - autobiográficas (década de 50 a 60 d.C); b) Deutero-paulinas (anos 80 d.C) e Cartas Pastorais (final do I século). Porém, abordaremos em uma próxima edição do nosso jornal "O Apóstolo" cada uma das gerações das Cartas Paulinas. Por ora, é importante destacar que Lucas escreveu Atos dos Apostolo quase 30 anos após a Carta aos Gálatas. Elemento de grande relevância para responder à pergunta inicial.
Lucas nos apresenta Paulo como um convertido, conforme as três narrativas dos capítulos de Atos: 9, 22 e 26. Mister ressaltar que Lucas tem profundo interesse em contar o lado perseguidor e cruel de Paulo para com os Cristãos, e enfatizar sua conversão. Seus escritos remontam aos anos 80 e 90, período em que o povo helenista abria-se para ouvir as pregações dos apóstolos. Por esse motivo, Lucas utiliza Paulo como modelo ideal de conversão, para converter o povo helenista.
Por outro lado, nos escritos paulinos, que datam dos anos 50 e 60, Paulo não usa o vocabulário de Conversão. Lembremos aqui que Paulo não deixou de ser judeu. Em Gálatas 1, 15-16, Paulo fala de vocação, revelação e evangelização.
Do episódio de Damasco, narrado três vezes por Lucas, Paulo em suas cartas originais fala pouco do que aconteceu, temos relatos em: 1Cor 9,1; 15,8; 2Cor 4,6; Gl 1,15-16; Fl 3,4-8.
Paulo não fala em conversão, mas sim em vocação. Paulo é agarrado e conquistado, menciona a luz do conhecimento da glória de Deus, que brilhou na face de Cristo. Paulo teve, portanto, uma experiência da revelação: ninguém contou a ele, ele mesmo viu e ouviu do próprio Deus, e isso, podemos chamar de "Estado Alterado de Consciência", ou seja, a iniciativa do chamado vem do próprio Deus. O sujeito é sempre Deus/Jesus e o destinatário é sempre Paulo. Portanto, Paulo desenvolve um modelo vocacional, baseado em Isaías e Jeremias: ação divina desde o ventre materno para ser luz, profeta e evangelizador. E o ponto de honra: Paulo é chamado a ser um evangelizador onde ninguém ainda foi.
Sendo assim, podemos dizer que Paulo é um fariseu chamado por Deus, "desde o ventre de sua mãe", a reconhecer e a evangelizar Jesus Cristo, como o filho de Deus e Senhor.
Para Paulo, a vocação para ser apóstolo não está em seus méritos humanos, já que considera a si próprio como "último" e "indigno", mas provém da bondade infinita de Deus, que o escolheu desde sempre e lhe confiou o ministério. Então, com base nas cartas paulinas autobiográficas, entendemos Paulo como um vocacionado!
Que São Paulo nos inspire a abrir nossos olhos para ver o amor abundante de Deus em nós. Que sejamos convertidos da cegueira que nos paralisa e nos impede de agir, a fim de que sejamos verdadeiros vocacionados a anunciar as obras maravilhosas de Deus!