MATÉRIA DE CAPA
É preciso viver uma comunhão fraterna, conforme explicita o lema da campanha: do que era dividido fez a unidade (Ef 2, 14a) e mais ainda, colocar em prática o tema desse ano Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor.
PASCOM MATRIZ DE SANTO ANDRÉ - SP
POR VANESSA SIRIBELI DE SANTO ANDRÉ - SP
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2021: CRISTO É A NOSSA PAZ!
"Paz, paz de Cristo! Paz, paz que vem do Amor, te desejo, irmão! Paz que a felicidade, de ver em você: Cristo nosso irmão! Se algum dia na vida, você de mim precisar, saiba que sou seu amigo, pode comigo contar. O mundo dá tantas voltas, e a gente vai se encontrar. Quero nas voltas da vida, a sua mão apertar."
Deu saudade desse belíssimo canto da paz, não é mesmo? Devido a pandemia, o tradicional abraço da paz, foi suspenso, mas a PAZ que vem do AMOR não, pois CRISTO é a nossa PAZ!
Estamos há poucos de dias de iniciarmos o tempo quaresmal e essa música nos faz refletir o quanto o mundo é sedento de paz, diálogo, e cuidado fraterno. Ainda mais nessa época de incertezas, em que a pandemia provocada pela COVID-19 nos revela a fragilidade e impotência humana e ao mesmo tempo escancara as desigualdades sociais, econômicas e raciais. Por isso, abordaremos nesta edição do nosso informativo "O Apóstolo", a Campanha da Fraternidade (CF) de 2021.
Bem sabemos, que a cada ano a CF nos propõe um tema para reflexão, o qual é elaborado pela Comissão Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e aprovado por seu conselho pastoral. E cabe lembrar que desde o ano 2000, a cada 5 anos, a CF é promovida de forma ecumênica, ou seja, é uma campanha preparada e pensada em comunhão com outras Igrejas Cristãs e, assim sendo, o texto base foi preparado pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), composto pelas seguintes igrejas: Aliança de Batistas do Brasil, Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida e Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia. Participam também da comissão de preparação representantes do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização (CESEEP) e a Igreja Betesda como Igreja convidada.
O texto base da CF deste ano, foi iluminado pela Encíclica Ut Unum Sint, de 1999, do Papa São João Paulo II, que traça um olhar a causa ecumênica. Todavia, não se trata de um texto ao estilo dos que outrora foram preparados pela CNBB, o que tem gerado críticas por parte de alguns fiéis. Entretanto, é necessário manter comunhão fraterna, conforme explicita o lema da campanha: do que era dividido fez a unidade (Ef 2, 14a) e mais ainda, colocar em pratica o tema: Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor. A seguir, faremos uma breve reflexão acerca do lema e tema para bem vivermos esse tempo forte da nossa liturgia, e nos preparamos para celebrarmos dignamente a memória da Páscoa: crucificação e ressurreição de Jesus!
O tema deste ano é: "Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor" e foi inspirado na citação bíblica da Carta aos Efésios 2, 14: "Cristo é a nossa paz, do que era dividido, fez uma unidade". A quaresma em si é um tempo de conversão, e se fundamenta em três pilares: jejum, oração e caridade. A CFE nos convida a uma conversão ao diálogo e compromisso de amor. Podemos nos fazer as seguintes perguntas: qual o jejum que agrada a Deus? Minha oração é em prol da paz? E quanto à caridade, sou capaz de acolher os vulneráveis, necessitados, desprezados, zelando pela unidade tão bem ensinada por Cristo? Essas indagações nos ajudaram a entender o contexto da Carta aos Efésios 2,14 e iluminarão nossas ações em tempos hodiernos.
No tempo em a Carta aos Efésios foi escrita, o que imperava era a "Política da Pax Romana", período histórico que vai desde o reinado de Augusto César, no ano de 29 a. C. até o ano de 180 com a morte do imperador Marco Aurélio. Basicamente, o contexto histórico de época, refere-se ao poderio do Império Romano, que se estendeu por uma vasta região através das guerras entre os povos vizinhos e a dominação de outros impérios. A Pax Romana, portanto, nada mais era do que uma das maneiras utilizadas pelo Império Romano em assegurar sua hegemonia e justificar sua posição de mando no tempo antigo. Era, uma paz determinada de cima para baixo, ou seja, o que prevalecia era o bem estar de quem detinha o poder (Roma) e sua estabilidade política e econômica, bem como a unidade territorial. Dessa maneira, pessoas que se opusessem as leis Romanas, eram massacradas e oprimidas. Foi, portanto, uma paz conquistada a custo de muito sangue inocente, sobretudo: dos escravos, das mulheres, dos estrangeiros etc.
Em oposição a essa paz fictícia imposta por Roma, temos Jesus Cristo, oferecendo sua PAZ - Cristo é PAZ. Logo, podemos dizer que a paz não corresponde a simples ausência de guerra, ou bem estar interior quando tudo vai bem. Mas sim, dizer que Cristo é a PAZ, e quem está em Cristo, está na Paz e semeia a Paz!
Nesse sentido, a carta aos Efésios - escrita por volta dos anos 80 e 90 d.C., considerada como deuteronopaulina ou pós-paulina - esta inserida num momento em que o Império Romano era plural, misturava diferentes culturas e tradições religiosas, causando certa instabilidade, dividindo os cristãos, que viviam conflitos causados pela falta de compreensão mútua entre judeus-cristãos e gentios-cristãos. Neste cenário, a Carta a comunidade de Éfeso, coloca que "Cristo é a Cabeça (Ef 1, 10 - 2, 22-23), está acima das comunidades particulares e afirma que a unidade é mais importante que a diversidade (Ef 2, 14-22). Jesus Cristo é o centro da fé e unifica as comunidades apesar das diferenças, pois chama a todos à experiência do amor que nos une.
Também naquele tempo, existia um muro no Templo de Jerusalém que separava os judeus dos gentios, mas em Cristo esse muro foi derrubado. Como base no cenário de Éfeso lemos hoje: "Cristo é a nossa Paz, do que era dividido fez uma unidade", frase essa, que deve inspirar nossos dias, na busca pelo diálogo e convivência fraterna.
Se nós vivemos em Cristo, não podemos aceitar que os muros da injustiça, da fome, do racismo, da xenofobia, da intolerância, do fundamentalismo religioso, da violência, da ganância etc., ganhem espaço e dividam as pessoas. É preciso que sejamos promotores da PAZ, uma paz que vem de Cristo e nos anima a sermos também anunciadores da esperança e da justiça.
Que possamos, durante esse tempo quaresmal, refletir com amor a CFE21, convertendo a insensatez e a indiferença de nossos corações, para experimentarmos a beleza misericordiosa de Deus. E assim, poderemos responder as perguntas inicialmente colocadas: que essa quaresma nos ajude a orarmos com fé, jejuarmos com inteligência e praticarmos com amor a caridade junto aos mais sofridos, esquecidos e desprezados, provendo assim a paz e unidade entre todos, fazendo valer o mandamento de Jesus: "Se alguém disser: "Amo a Deus", mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê" (1Jo 4, 20).
Nós do Jornal Apóstolo, desejamos a todos uma abençoada e Santa Quaresma na esperança de que possamos em breve dar o fraternal abraço da PAZ sendo todos um em Cristo Jesus!